Ajustar individualmente a suspensão 

Pela nossa experiência, muitos motociclistas nunca se deram ao trabalho de ajustar os elementos da suspensão da sua mota. É uma pena, porque é possível obter muita diversão e segurança na condução com uma suspensão ajustada individualmente. Não é por acaso que quase todas as motas estão equipadas com opções de ajuste mais ou menos extensas disponíveis de fábrica. A sua utilização eficaz não exige grande habilidade manual nem ferramentas especiais. Basta estudar cuidadosamente os passos seguintes e divertir-se a experimentá-los.

• Não são apenas os elementos da suspensão que são responsáveis pela experiência de condução. Antes de começar a ajustar os elementos da suspensão, certifique-se de que os pneus têm a pressão de ar correta e que o perfil não está completamente gasto: ambos podem distorcer os resultados do seu trabalho. Deve também verificar se os rolamentos de roda, da cabeça de direção e do braço oscilante funcionam sem folgas. E também deve ficar claro que as forquilhas com uma película de óleo gorduroso e amortecedores de choques com fugas não requerem um ajuste, mas sim uma reparação.
• As ferramentas mais importantes quando se trabalha na suspensão são um bloco de notas e uma caneta! Para começar, anote a situação inicial, ou seja, geralmente os ajustes de fábrica, e depois registe meticulosamente todas as alterações que fizer. Esta é a única forma de manter o controlo do ajuste, fazer comparações corretas e regressar rapidamente à posição inicial se não estiver satisfeito. As fotografias tiradas com um smartphone também podem ajudar na documentação. Também deve ter o seguinte material à mão: uma régua articulada ou fita métrica robusta, chave de fendas e chave de bocas para a forquilha, chave de porcas para o amortecedor de choques e, claro, o manual de instruções da mota.
• Se possível, deve ter uma segunda pessoa para o ajudar, pois isso facilita muitos passos de trabalho.
• Faça como os profissionais na pista de corridas: proceda passo a passo e experimente todas as alterações em condições práticas de condução. Lembre-se: a experiência ganha-se com a condução!

Mesmo quando estão paradas, as molas são comprimidas pelo peso da mota e da capacidade de carga. Isto tem de acontecer para que a suspensão possa manter sempre o contacto com o solo durante a condução. A medida desta compressão é chamada de curso negativo da suspensão. Para o determinar, meça a distância entre a ponte da forquilha inferior e a tampa de proteção contra pó no tubo de imersão, duas vezes à frente, ou entre a extremidade inferior da forquilha e a tampa de proteção contra pó, nas forquilhas invertidas (USD). A primeira vez com a suspensão totalmente aliviada (He), por exemplo, no descanso principal, a segunda vez numa superfície tão plana quanto possível com uma carga (Hb), ou seja, com o motociclista e eventual bagagem/acompanhante. É preferível efetuar as medições com carga juntamente com um ajudante.

Na traseira, meça a partir do eixo da roda até um ponto fixo na retaguarda da mota, na vertical acima deste. A diferença entre os dois valores dá o curso negativo da suspensão (Fneg). Com carga, deve ser aproximadamente um terço do curso total da suspensão (Fges). Este último pode ser consultado nos dados técnicos do manual de instruções da mota.

A: Offset

B: Trail

C: Ângulo de avanço

D: Distância entre eixos

Com as medidas agora disponíveis, pode iniciar a fase de teste. Siga o manual de instruções e registe todas as alterações na sua tabela. Geralmente, a base da mola é alterada em ambos os lados da forquilha, utilizando fusos roscados, que pode rodar para dentro ou para fora com uma chave de bocas. Certifique-se de que o ajuste é o mesmo em ambas as pernas da forquilha.

No amortecedor de choques, um mecanismo de entalhe ou uma porca ranhurada com contraporca ajusta a base da mola. Ambos são movidos com uma chave de porcas, que normalmente faz parte do kit de ferramentas de bordo. Também aqui, aplica-se o seguinte a dois amortecedores de choques: garantir sempre o mesmo ajuste.

Agora é tudo uma questão de encontrar o ajuste certo para o seu estilo de condução e os seus percursos favoritos, ao compromisso certo entre estabilidade e manobrabilidade. Para si, isto significa alterar repetidamente, registar as alterações e "experimentá-las" na estrada. Neste caso faz sentido trabalhar em direções opostas à frente e atrás, ou seja: mais baixo à frente — mais alto atrás e vice-versa. Isto mantém o centro de gravidade geral à mesma altura e não influencia adicionalmente as reações da mota. Estas serão claramente percetíveis: cada 10 mm para cima ou para baixo pode transformar uma mota ágil numa mota instável e uma mota estável numa mota difícil de manobrar.

Um óleo especial com uma viscosidade precisamente adaptada abranda o movimento ascendente e descendente da mota na forquilha e no amortecedor de choques e evita o ressalto das molas. É feita uma distinção entre a extensão (fase de extensão) e a compressão (fase de compressão). A intensidade do efeito de amortecimento do óleo pode ser ajustada através de válvulas que regulam o fluxo. Se apenas a fase extensão for ajustável no amortecedor de choques, a sua alteração afeta sempre a fase de compressão.

Em primeiro lugar, é necessário saber quais as opções de ajuste da sua mota e onde se encontram os respetivos parafusos de ajuste. O manual de instruções ajuda-o, naturalmente, nesta tarefa.

É relativamente fácil encontrar um ajuste básico adequado para a fase de extensão, quando a mota está parada. Para isso, empurre, com força, o guiador para baixo, com o travão acionado. A forquilha deve então ressaltar sem demora, de preferência ligeiramente para além da posição de repouso, e voltar a esta sem ressalto. Se este for visivelmente lento, está sobreamortecido, se saltar até ao batente ou mesmo ressaltar várias vezes, está subamortecido.

Repita este exercício com as válvulas amortecedoras completamente fechadas e completamente abertas. Isto dar-lhe-á uma ideia da gama de ajuste. Consulte o diagrama (gráfico: é assim que funciona o amortecimento da forquilha).

Eixo X: tempo em segundos; Eixo Y: curso da suspensão em mm; Linha A: com amortecimento insuficiente, Linha B: ideal, Linha C: com amortecimento excessivo

Teste a fase de extensão do amortecedor de choques (ou de ambos os amortecedores de choques) empurrando firmemente a traseira para baixo. A extensão do amortecedor de choques pode demorar um pouco mais do que a da forquilha (máx. 1 segundo). Mas não deve haver qualquer ressalto. Também deve verificar a gama de ajuste aqui, repetindo o exercício com o amortecimento fechado e aberto.

Agora já tem um ajuste básico correto para o amortecimento de extensão. Para uma afinação mais precisa, é necessário fazer-se à estrada.

Isto também se aplica à determinação do amortecimento de compressão ideal. Também aqui pode, naturalmente, experimentar os ajustes extremos: Quanto mais suave for a fase de compressão, mais a forquilha amortecerá durante a travagem ou o amortecedor de choques comprimirá até ao batente em caso de buracos. Isto é agradável e confortável em troços de estrada planos, mas também bastante instável quando se faz curvas a alta velocidade.

Por outro lado, um ajuste muito "rígido" assegura ângulos de curva estáveis e uma boa resposta na pista de corrida, por exemplo, mas faz com que toda a condução se torne desagradável em estradas nacionais acidentadas e, no pior dos casos, faz com que os pneus saltem.

Por isso, quando se trata de amortecimento, trata-se de encontrar a solução que melhor se adapta ao seu próprio estilo de condução, carga e terreno preferido. É melhor não ter pressa, experimentar diferentes variantes e concentrar-se numa coisa de cada vez, ou seja, apenas na forquilha ou apenas na suspensão traseira.