Manutenção da embraiagem

De que serve ter 150 cv se não pode usá-los na estrada? Os pilotos de Drag Race não são os únicos com este problema: mesmo em motas de estrada normais, sempre que se arranca ou acelera, a embraiagem tem de ter um desempenho extremamente bom para enviar a potência da cambota para a transmissão sem perdas e nas proporções certas.

O funcionamento da embraiagem baseia-se no princípio físico da fricção, pelo que se trata de uma peça de desgaste. Quanto mais exigir dela, mais cedo terá de a substituir. A embraiagem é submetida a um esforço especial, por exemplo, quando arranca com o motor a alta velocidade. É claro que o arranque é muito mais "viril" quando a agulha do conta-rotações sobe para o vermelho e a alavanca de embraiagem está meio aberta. Infelizmente, apenas metade da potência chega ao sistema de tração, transformando-se o resto em calor e desgaste dos discos de embraiagem. 

Um dia, estes discos desaparecem e, se precisar da potência máxima, a sua mota pode fazer muito barulho, mas a potência só chega à roda traseira quando já for tarde demais. Nessa altura, terá de gastar o dinheiro que poupou para as próximas férias em peças sobresselentes (conjuntos de correntes, pneus, discos de fricção da embraiagem, etc.).

Os nossos avós não tinham este problema porque as primeiras motas ainda funcionavam sem embraiagem. Para parar, era preciso desligar o motor, e depois o arranque parecia um espetáculo de "rodeo". Claro que isto seria demasiado perigoso no trânsito atual. É por isso que é vital ter uma embraiagem que funcione perfeitamente. 

Com poucas exceções, a embraiagem multidisco em banho de óleo tem prevalecido nas motas modernas. A melhor forma de visualizar este tipo de embraiagem é imaginar uma sandes grande, redonda e com várias camadas, e substitua a salsicha por discos de fricção e o pão por discos de aço. Estes são pressionados em conjunto por uma placa de pressão com a ajuda de várias molas. A compressão dos elementos forma uma ligação fechada entre o motor e a transmissão, que se abre quando se puxa a alavanca de embraiagem e pressão das molas é aliviada. 

O tamanho, o número e a superfície dos discos são, naturalmente, adaptados com precisão à potência do motor. O resultado é um arranque suave, sem solavancos, com o binário do motor transmitido com toda a segurança. As molas de torção no cesto da embraiagem amortecem as reações às variações de carga e proporcionam um maior conforto. 

A embraiagem também tem um efeito protetor em caso de paragem do motor. O deslizamento evita uma sobrecarga das rodas dentadas. Naturalmente, uma boa embraiagem só funciona quando a transmissão funciona perfeitamente. Por norma, no caso dos sistemas hidráulicos, deve ter em consideração os pontos relativos aos travões de disco: o fluido hidráulico não deve ter mais de 2 anos, não pode haver ar no sistema, todas vedações têm de estar a funcionar corretamente e os pistões não podem encravar (dicas para mecânicos amadores "Pastilhas de travão"). Não é necessário ajustar qualquer folga, pois o sistema hidráulico ajusta-se automaticamente. O caso muda de figura em caso de acionamento mecânico através de um cabo tensor. Para além de ser preciso ter um cabo Bowden revestido a Teflon ou lubrificado em perfeitas condições, é crucial ajustar a folga. Se a embraiagem estiver quente, uma folga insuficiente faz com que as pastilhas deslizem e se desgastem rapidamente. O sobreaquecimento também danifica os discos de aço (deformam-se e ficam azuis). Pelo contrário, uma folga excessiva dificulta a mudança de velocidades. Quando a mota está parada, tem tendência a arrancar antes de se soltar a alavanca de embraiagem, e é difícil colocá-la em ponto morto. O problema é óbvio: a embraiagem não consegue desengatar-se corretamente. Isto também pode acontecer se os discos de aço estiverem deformados! 

Por outro lado, o engate e desengate bruscos indicam normalmente que o cesto da embraiagem e o transportador estão danificados. Na maioria das motas, não é necessário desmontar o motor para fazer a revisão da embraiagem e substituir as pastilhas. Se não tiver medo de sujar as mãos e tiver algum talento mecânico, pode fazer o trabalho você mesmo e poupar muito dinheiro.

Desaperte e retire os parafusos da tampa por fases, utilizando uma ferramenta adequada. Os parafusos apertados à máquina ou pintados podem ficar encravados. Na maioria das vezes, uma ligeira pancada na cabeça do parafuso ajuda a soltá-los. Uma chave de impacto é ideal para rodar parafusos Philips.

Para retirar a tampa dos casquilhos de ajuste, pegue no lado de plástico (!) do martelo variável e bata com força a toda a volta da tampa até esta se soltar. 

Agora, o cesto da embraiagem está à sua frente. Para aceder ao interior, é necessário retirar primeiro o prato de pressão da embraiagem. Na maior parte das vezes, é necessário desapertar vários parafusos e, mais raramente, uma porca central. Desaperte sempre de forma cruzada e por etapas (cerca de 2 voltas cada)! Se o cesto da embraiagem rodar, a primeira velocidade pode ser engatada e o travão de pé pode ser bloqueado. Se a caixa da embraiagem rodar com os parafusos, pode colocar a mota em primeira e bloquear o pedal do travão Depois de desapertar os parafusos, pode retirar as molas de pressão e a placa de pressão e remover os discos de aço e de fricção da embraiagem. Coloque tudo numa folha de jornal limpa ou num pano para se conseguir lembrar da sequência de instalação.

Verifique agora os componentes: com o tempo, as molas da embraiagem ficam desgastadas e encolhem. Por isso, meça o comprimento e compare-o com o limite de desgaste indicado no seu manual de oficina. As molas da embraiagem são relativamente baratas (cerca de 15 euros). As molas soltas provocam o deslizamento da embraiagem, pelo que recomendamos a sua substituição em caso de dúvida! 

Os discos de aço entre os discos de fricção podem ficar deformados sob o efeito do calor. Na maior parte das vezes, ficam azuis. Pode verificar isto com um calibrador e uma placa de endireitamento. Também pode utilizar uma placa de vidro ou espelhada em vez da placa de endireitamento. Pressione ligeiramente a lamela contra a placa de vidro e, a partir de pontos diferentes, tente calcular a folga entre os dois pontos utilizando o calibrador. Pode haver uma ligeira deformação (até cerca de 0,2 mm). Consulte o valor exato no manual de instruções da mota. 

Os discos que estiverem descolorados e deformados têm de ser substituídos. O mesmo se aplica a cestos da embraiagem e transportadores internos fortemente desgastados. Pode utilizar uma lima para alisar pequenas amolgadelas nos lados das guias das pastilhas. Embora seja um processo moroso, permite poupar bastante dinheiro. Para evitar a queda de limalhas no motor, é necessário desmontar as peças. Desaperte a porca central para retirar o cesto da embraiagem. Para tal, segure no transportador com uma ferramenta especial. Consulte o seu manual de instruções para obter mais instruções. Verifique também o estado do amortecedor no cesto da embraiagem. Ouvir ruídos de chocalhar quando o motor está a funcionar já indica danos relacionados com o desgaste. O cesto pode ter uma pequena folga quando montado, mas não deve parecer macio nem desgastado em caso de aceleração ou solavancos.

Depois de decidir que peças têm de ser substituídas, pode iniciar o processo de montagem. O produto de limpeza dos travões pode ser utilizado para lavar os resíduos de desgaste e a sujidade das peças usadas. As peças limpas e oleadas são agora montadas pela ordem inversa. Consulte novamente o manual de oficina: preste atenção às marcações nos componentes que indicam uma determinada posição das peças! 

Se o cesto da embraiagem não tiver sido desmontado, a tarefa é relativamente fácil: comece por colocar os discos da embraiagem, começando e terminando com um revestimento de fricção (nunca um disco de aço). A seguir, coloque a placa de pressão e, depois, coloque as molas com os parafusos (na maioria dos casos, terá de exercer uma ligeira pressão). Preste atenção às eventuais marcações quando posicionar a placa de pressão! 

Para terminar, aperte os parafusos em cruz, por etapas. Se o manual de oficina especificar um valor de binário, certifique-se de que utiliza a chave dinamométrica. Caso contrário, aperte sem forçar porque as roscas são particularmente delicadas no interior do transportador da embraiagem.  

Se a embraiagem for acionada com um cabo Bowden, o ajuste da folga da embraiagem é decisivo para o resultado do trabalho. A folga pode ser ajustada através de um parafuso de ajuste no centro do cesto da embraiagem, no lado oposto do motor ou na tampa da embraiagem (se tiver um mecanismo de desembraiagem). Siga sempre as instruções do fabricante. 

Depois de limpar as superfícies vedantes e colocar a vedação correta, pode voltar a montar a tampa da embraiagem. Não esquecer os casquilhos de ajuste! Coloque os parafusos e comece por apertá-los à mão. Depois, aperte-os ligeiramente ou com uma chave dinamométrica, de acordo com as instruções do fabricante. 

Ao ajustar através de um cabo Bowden, certifique-se de que a alavanca de embraiagem tem uma folga de aprox. 4 mm antes de a sujeitar a uma carga. Não deve ser necessário desapertar muito o parafuso oco da sua posição. 

Agora, pode encher com óleo. Confirme que o parafuso de drenagem de óleo está bem assente! A seguir, monte os apoios para os pés, o pedal de arranque, etc., e remova eventuais bloqueios nos travões e nas rodas traseiras. Tudo está bem quando acaba bem. Mas, antes de voltar a sentar-se na mota, verifique o seu trabalho mais uma vez: ligue o motor em ponto morto, mantenha as alavancas do travão e da embraiagem engatadas e meta suavemente a primeira velocidade. Se já conseguir acelerar sem derrapar ou escorregar, fez um bom trabalho e pode esperar muitos mais quilómetros com a sua mota!